sexta-feira, 15 de julho de 2011

Nosso leitor opina sobre Eu, Robô

Hoje aqui no blog, nós teremos uma participação bem especial de um fã da sétima arte e grande conhecedor da obra Isaac Asimov que deu origem à adaptação Eu, Robô. Petras Furtado é repórter cinematográfico e tem um blog bem interessante sobre cinema. Após a apresentação, vamos logo ao que interessa: a opinião desse leitor sobre a adaptação protagonizada pelo americano Will Smith. 

“O primeiro livro — que não fosse infantil ou escolar — que li chamava-se Eu, Robô, uma pequena compilação de contos de um escritor chamado Isaac Asimov. Na época, chamaram-me a atenção o pequeno volume de páginas (fácil de ler!) e a capa com um robô, o que para minha imaginação de menino, era algo irresistível. Embora tivesse sido lançado originalmente em 1950, a coletânea só chegou no Brasil (e especificamente, às minhas mãos) em meados dos anos 70. Mas eram estórias maduras e que apresentavam várias camadas de compreensão e detalhes, já que a continuei lendo nos próximos dez anos. Foi minha primeira imersão no universo de ficção científica.



O livrinho continha nove contos que mostravam o panorama de um futuro aparentemente próximo, onde destacavam-se os elementos que depois seriam um padrão nas narrativas de robôs de Isaac Asimov: A fria e mal-amada robopsicóloga Susan Calvin (a serviço da fábrica de renome mundial Robôs e Homens Mecânicos U.S.), as Três Leis da Robótica (que restringiam o comportamento de um robô, impedindo que ele pudesse ferir um ser humano) e a repercussões morais que resultavam da interação entre os robôs e a sociedade humana. 


Os primeiros contos mostravam robôs como um elemento experimental da indústria, equipados com corpos nitidamente artificiais e os famosos cérebros positrônicos, computadores capazes do mesmo esforço racional de um ser humano — apesar da falta de emoções. As três leis da robótica tornaram-se tão populares, que muitos escritores de ficção científica passaram a copiá-las ou usá-las como referência:

1. Um robô não pode ferir um ser humano, ou, por inação, permitir que um ser humano se fira;

2. Um robô deve obedecer a todas as ordens de um ser humano, exceto quando esta entrar em conflito com a primeira lei;

3. Um robô deve proteger sua existência, desde que isso não entre em conflito com a primeira e segunda leis.



Já o filme de 2004, dirigido por Alex Proyas e estrelado por Will Smith, que se passa no ano de 2035, mostra um futuro quase utópico, onde os robôs são uma visão comum nas ruas de uma Chicago, em uma grande variedade de serviços públicos.


O núcleo do filme gira ao redor da investigação do assassinato do cientista em robótica Alfred Lanning, pelo detetive Del Spooner. Ambos eram amigos, já que Lanning era responsável pela cirurgia que salvou a vida de Spooner, em um acidente ocorrido vários anos antes, do qual também se origina o desgosto de Spooner pelos robôs.



A partir daí temos segredos corporativos, intrigas e um interesse romântico (entre Del e Susan Calvin, assistente de Lanning e literalmente apaixonada por robôs) que parece nunca se concretizar. Acrescente a isso um supercomputador corporativo excessivamente zeloso e um robô suspeito do assassinato de Lanning, que sonha com um futuro onde ele lidera outros robôs como uma espécie de revolução ou insurgência  — uma referência direta a um conto de Asimov chamado Visões de Robô, que aparece na coletânea de mesmo nome. Outra referência é ao conto Conflito Evitável, onde supercomputadores funcionam como administradores globais, por acreditarem que são capazes de dirigirem a humanidade melhor que nós mesmos.


Os contos e romances robóticos de Asimov são geralmente de natureza reflexiva, onde seus heróis vencem os obstáculos ao redor com astúcia, intelecto e muito bom humor — o que não acontece no filme, que é uma receita clara de blockbuster com muita ação, multidões de robôs para serem despedaçados pelos tiros do protagonista, perseguições de automóveis, reviravoltas previsíveis e o clímax óbvio.


O que se salva, talvez, na película, seja o apelo visual do filme, limpo e claro, uma narrativa ágil que não dá sono, e o design dos robôs, que denota, em especial, a mudança de geração dos robôs mais velhos para os mais novos — estes, com aparência mais humanizada, com formas suaves e um jeitão meio Microsoft (o que mete um certo medo).


Se colocarmos os dois na balança, veremos que há pouco do autor original neste filme, e este pouco não chega a fazer uma diferença. Se era para fazer um filme de ação de ficção científica, não era necessário tentar fazer pensar o público, que é tudo que Eu, Robô consegue. Diversão, sim, entretenimento puro e simples.

Mas é só.



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